sábado, 31 de maio de 2008

Bons negócios, maus sinais...


Noventa mil europeus, esmagadoramente portugueses, a maioria jovens - e dessa maioria, uma boa parte liceais -, deliraram com o "espectáculo incrível" (sic, disseram alguns na TV, entusiasmadíssimos) que uma bêbada decadente, com uma voz miserável e a cair em palco que metia dó, deu ontem à noite no "Rock in Rio".
Bons negócios, maus sinais...

Futuros d-erres brincando à selvajaria fascista


As praxes têm valor pedagógico. Permitem identificar quem, humilhando ou deixando-se humilhar, confunde universidade com pocilga.
João Pereira Coutinho, Expresso, 31/5/08

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Le temps des cérises

terça-feira, 27 de maio de 2008

Bem visto

Sistema de ensino: rumo à infantilização crescente
Por Paulo C. Rangel (do Blogue Geração de 60, 20/5/08)

Ao que parece o Conselho Nacional de Educação - com a bênção já há tempos anunciada do Ministério da Educação - vai propor a fusão do primeiro e do segundo ciclos do ensino básico. Medida cujo intuito será o de submeter as criancinhas dos seis aos doze anos ao regime maternal-paternal do professor único (ou melhor, do professor tendencialmente único). Tudo isso com o superior propósito de evitar os traumas da transição de um sistema de um único docente para um sistema de vários docentes.
Em Portugal, continua-se no trilho da infantilização e desresponsabilização de crianças e jovens. Que trauma pode sofrer um ser humano de dez anos por passar de um regime de professor único para um de cinco ou seis professores (se forem dez, como se diz, serão, de facto, demais...)? E esse trauma não se agravará se vier a ser sofrido aos doze ou treze anos, altura em que tem de lidar com todas as mudanças da adolescência?
Aos dez anos, não haverá já maturidade psicológica para viver com a diversidade e a multiplicidade das relações e dos carismas humanos? Não será altura de as crianças saírem do casulo para o mundo multipolar da teia de relações? Não será benéfico conviver com diferentes perfis e métodos de ensino e aprendizagem? Não se ganhará com a competência especializada dps professores de cada área? E já agora que tem isto tudo a ver com a pobreza infantil, que foi, pelo menos, no anúncio dos media, associada a esta reforma visionária?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O serviço administrativo (da coluna de Francisco José Viegas no Correio da manhã)

Serviço administrativo.
Por mais vontade que uma pessoa tenha de deixar um aceno simpático para a ministra da Educação, a verdade é que ela se encarrega de impedir o gesto. Não apenas por culpa dela, mas sobretudo por causa da «doutrina» que domina o Ministério e os seus pedagogos oficiais. É por isso que a ministra diz (numa entrevista à TVI) que a liberdade de escolha é nefasta e prejudicial e é por isso que admite veladamente que o caminho para acabar com o insucesso escolar é o fim das reprovações. Todos sabemos de onde vêm essas ideias e todos (com as naturais excepções dos génios que a ministra tem a cercá-la no ministério) sabemos que os resultados podem ser bons para as estatísticas mas são maus para o ensino. Os governos pensam que um bom ministro da Educação se deve limitar a pôr a casa em ordem; isso, a ministra fez. Mas pedia-se mais: uma mudança na cultura da escola, um sinal de que o ministério não quer apenas melhorar as estatísticas, mostrando serviço administrativo.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Professores a darem despesa...



Agora são os chumbos que custam muito dinheiro ao país, isto é, são os professores a darem despesa, sem haver necessidade. Pensava que os chumbos já fossem residuais, mas, afinal, mesmo os poucos que vai havendo ainda são o maior sorvedouro de dinheiro mal gasto de todo o estado português.
Não deixa de ser extraordinário: uma reprovação bem acompanhada não resulta, mas com uma ou sucessivas transições artificiais já o problema fica resolvido... Pensando que a escola pública vai sendo cada vez mais para os "filhos dos outros", "coitaditos", por lá andarem a "socializar" e a adquirir "competências" (seja lá o que isso for)... Chumbos para quê, afinal?

Que a escola não as abandone

Crianças guineenses: têm como língua materna um crioulo de base portuguesa ou uma língua africana sem escrita, estudam (em) Português. Que a escola não as abandone. É caso para dizer, ao contrário dos Pink Floyd (terão filhos, ou serão apenas uns tipos cheios de dinheiro e de "liberdade"?) : Teachers! Don't leave the kids alone!

É uma linguista (Inês Duarte) que o diz: ensine-se explicitamente gramática!


Nas últimas décadas, a reflexão sobre a estrutura e o funcionamento da língua tem sido subalternizada nas aulas de Português.

Porventura por influência das abordagens comunicativas dominantes nas línguas estrangeiras, tem-se atribuído a tal reflexão um papel secundário ou meramente instrumental – o da correcção de erros de uso.

Os efeitos desta filosofia são conhecidos. Os alunos concluem a sua escolaridade secundária sem consciência explícita das regularidades da língua, dos tipos de unidades que formam as palavras a as frases, dos paradigmas flexionais, dos processos de formação de novas palavras, dos padrões de articulação entre frases. O seu fundo lexical activo e passivo é mais restrito do que seria desejável. São notórias as suas deficiências relativamente ao domínio das convenções ortográficas e das regras de pontuação.

Sem retirar às aulas de língua materna o objectivo de trabalhar as modalidades ouvir/falar, ler/escrever, sustentamos que elas são o espaço curricular em que a reflexão sobre a estrutura e o funcionamento da língua deve caber como componente autónoma. Sustentamos que é necessário dar aos alunos, nas aulas de Português, múltiplas ocasiões para um trabalho “laboratorial” sobre a língua, desligado dos objectivos comunicativos com que a utilizamos como falantes.

Inês Duarte, “Oficina gramatical: contextos de uso obrigatório do conjuntivo”, in Para a Didáctica do Português – Seis Estudos de Linguística, Lisboa, Edições Colibri,1992, p. 165.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Poema de Vasco Graça Moura


lâmpada votiva/3

agora deu-se à terra o que é da terra
e as flores amontoam-se em sinal
de ser fugaz a vida, sobre a cal.
e enquanto cada dia desaferra,

com seu sopro bravio virão ventos
e as gaivotas, levando-lhes outras vozes,
uivos do mar, pios, metamorfoses.
nada ela escutará nesses momentos.

haverá fumo e fogo, deslembranças,
ecos, recordações, nuvens, ruídos,
outros cortejos tristes, recolhidos,
ali por perto hão-de brincar crianças

num jogo descuidado. um grupo vence-o.
mas fica a minha mãe posta em silêncio.

Ó da guarda, que vamos ficar sem as consoantes 'mudas'!


Circula agora por aí uma petição contra o Acordo Ortográfico, em que se fala com "profunda indignação" contra a supressão das consoantes etimológicas não articuladas 'c' e 'p', que seriam essenciais para as vogais abertas que as antecedem se manterem abertas. A verdade é que o argumento colhe muito pouco, porquanto em 'actriz' ou em 'actual', a presença do 'c' não impediu que o 'a' fechasse. Infelizmente, a redução das vogais não tónicas é uma característica do português europeu, e isso, de facto, não abona nada a favor da sonoridade da variante europeia da nossa língua, que fica muito mais tristonha de se ouvir. Mas defender a pés juntos que são as consoantes "mudas" que impedem a redução do timbre das vogais é claramente um argumento pobre, tanto mais que essas consoantes só existem na escrita. Com o número de leitores que temos...
Ainda por cima, temos exemplos que atestam o contrário: em 'inflação' ou 'translação', não consta que o 'a' esteja a fechar e estas palavras não têm qualquer consoante 'muda'. Por outro lado, que se saiba, os brasileiros estão longe de fechar o 'e' de selecção e já há muitos anos que escrevem e lêem 'seleção'. Também nos (imensos) pares de homógrafas sem acento gráfico distintivo - eu namoro / o namoro, eu começo / o começo - a vogal aberta, embora aí seja tónica, não fechou, e não há qualquer sinal gráfico a sinalizar a sua abertura.
Na verdade, pode-se discutir uma ou outra "solução" que o Acordo propõe, mas o tão estafado argumento das consoantes etimológicas não articuladas parece-me um pouco preguiçoso.