terça-feira, 6 de maio de 2008

É uma linguista (Inês Duarte) que o diz: ensine-se explicitamente gramática!


Nas últimas décadas, a reflexão sobre a estrutura e o funcionamento da língua tem sido subalternizada nas aulas de Português.

Porventura por influência das abordagens comunicativas dominantes nas línguas estrangeiras, tem-se atribuído a tal reflexão um papel secundário ou meramente instrumental – o da correcção de erros de uso.

Os efeitos desta filosofia são conhecidos. Os alunos concluem a sua escolaridade secundária sem consciência explícita das regularidades da língua, dos tipos de unidades que formam as palavras a as frases, dos paradigmas flexionais, dos processos de formação de novas palavras, dos padrões de articulação entre frases. O seu fundo lexical activo e passivo é mais restrito do que seria desejável. São notórias as suas deficiências relativamente ao domínio das convenções ortográficas e das regras de pontuação.

Sem retirar às aulas de língua materna o objectivo de trabalhar as modalidades ouvir/falar, ler/escrever, sustentamos que elas são o espaço curricular em que a reflexão sobre a estrutura e o funcionamento da língua deve caber como componente autónoma. Sustentamos que é necessário dar aos alunos, nas aulas de Português, múltiplas ocasiões para um trabalho “laboratorial” sobre a língua, desligado dos objectivos comunicativos com que a utilizamos como falantes.

Inês Duarte, “Oficina gramatical: contextos de uso obrigatório do conjuntivo”, in Para a Didáctica do Português – Seis Estudos de Linguística, Lisboa, Edições Colibri,1992, p. 165.

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