Há já vários anos que Camilo Castelo Branco desapareceu dos programas de Português do ensino secundário. Não só ele, evidentemente, mas ele, em particular, é o caso mais chocante. As mentes brilhantes que cortaram a novela "Amor de Perdição" deverão ter pensado, no seu "modernacismo" tacanho, que a história é uma patetice: morrem todos no fim, os gajos mal se chegam a tocar, aquela personagem "humilde" chamada Mariana é totalmente lamechas, aquelas cartas são insuportáveis e hoje os adolescentes já não se escrevem e já não se apaixonam assim, por aí fora. Deverão ter pensado depois que seria muito mais "pedagógico" que os "aprendentes" (sic) se iniciassem nos requerimentos e outros "textos transaccionais" (sic). Tudo mais "ligado à vida", mais "utilitário". Afinal, para que servem novelas passionais?Os milhares de adolescentes que todos os anos saem do secundário ficam, assim, privados da leitura orientada de um clássico da literatura portuguesa. A maior parte, para o resto da vida. Ninguém parece dar pela falta. Ninguém manifesta a menor indignação. Ninguém diz que é um crime - que suponho que era o que diriam os ingleses se lhes retirassem da escola o "Romeu e Julieta".
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